terça-feira, 26 de julho de 2011

Tortuosamente possível

Poderia ser em um futuro distante. Poderia ser agora. Poderia ser exatamente no instante em que o universo inteiro conspirasse para que aquilo acontecesse com aquele que um dia deixou de lado a sutileza de um sorriso para viver entre um mar de tempestades.
O instante seguinte sempre lhe era imposto, o presente não era tão presente assim, sempre era visto com a cabeça e com a imaginação em outros tempos, em outros destinos, em outros caminhos. O presente nunca era visto como merecia, o presente sempre era visto como futuro. O presente era inútil.

Enquanto esforçava-se para se aproximar do próximo passo, mal conseguia suportar o passo atual, mal conseguia parar em pé. Além de tudo, sentia um vázio que lhe atingia os pés, dificultando seus passos seguintes e deixando latentes as marcas causadas pela exaustão dos passos anteriores. Era difícil. Insuportável, ele gritava. Mas era suportável porque ele possuia algo que não sabia como definir, mas estava dentro dele e era essa coisa-estranha-que-ele-não-sabia-definir que o fazia suportar e que o fazia das os passos seguintes, ainda que, claro, ainda que fossem difíceis.

Mas para ele não bastava dar o passo, o toque dos pés no chão deveria ser suave, deveria ser calmo e também deveria parecer que aquele ato era constante, tão constante a ponto de todas as dores e confusões se extinguirem de sua mente e de seu corpo. Ele não conseguia. Não conseguia dar o passo sem que parecesse que foi sofrido, batalhado, mas alcançado. Isso o aterrorizava, não queria transparecer fraqueza, mas além de fraqueza, o que ele não queria era transparecer as dificuldades que habitavam sua mente e os obstáculos internos que eram criados conforme ele movia seus músculos em busca de concluir o passo.

Ele não conseguia, novamente. E se martirizava e chorava e não queria saber de mais nada. O mal disso tudo é que não dependia apenas de sua vontade, dependia de outros ele's que ele não sabia ao certo que existiam, mas eram esses "ele's" responsáveis por toda mutação que seu corpo sofria todas as vezes em que criava um obstáculo. Mas também eram responsáveis por raros passos que eram concluídos com essa suavidade. Os outros "ele's" enxergavam e criavam de tudo, mas ele decidiu que só teria olhos para criações e visões reais e que não haveria limites. Ele sempre seria capaz de enfrentar qualquer obstáculo que fora criado por si próprio.

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