quinta-feira, 27 de junho de 2013

As romãs

Duras romãs entreabertas
Pelo excesso dos grãos de ouro,
Eu vejo reis, todo um tesouro
Nascer de suas descobertas!
Se os sóis de onde ressurgis,
Ó romãs de entrevista tez,
Vos fazem, prenhes de altivez,
Romper os claustros de rubis,
E se o ouro sece cede enfim
Ante a demanda ainda mais dura
E explode em gemas de carmim,
Essa luminosa ruptura
Faz sonhar uma alma que há em mim
De sua secreta arquitetura.

 
(Paul Valéry)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Carta para A.

Amontoei todas aquelas coisas velhas que estavam jogadas em um canto qualquer porque eu precisava ter no meu campo de visão algo concreto. E me senti  invisível, A. Senti vontade de chorar, de fazer uma faxina mental, de apagar tudo e recomeçar do zero...Mas essa vontade era maior que minha força nesse momento e minha mente não consegue carrega-la. Deixei de lado e tentei partir pra outro caminho, mas não consigo, A.

Continuo me sentindo invisível. Queria escrever pra você e falar que tenho motivações, desejos, curiosidades, mas se te escrevo hoje é pra falar que a única coisa que restou aqui é a solidão, A. Os dias são cada vez mais difíceis, mas essa dificuldade é causada por fatores internos. É a minha sensação de invisibilidade que me mata todos os dias, A. Ninguém me enxerga como eu gostaria de ser enxergado, na verdade, ninguém me enxerga de forma alguma.

Andei pensando em soluções pra essa situação. Pensei em malhar, fazer o mesmo trajeto de forma diferente, praticar yoga...Pensei em tudo. Pensei até em ser feliz. Mas essa coisa de ser feliz só funciona quando nos enxergamos, quando reconhecemos quem nós somos. E como eu já te disse aqui, me sinto invisível. Nenhuma atitude que eu tomar nesse momento trará algum resultado. Talvez traga a tal da felicidade instantânea, mas eu quero mais que isso, A...Eu quero a felicidade plena.

Eu acho que nunca cheguei a comentar essas coisas com você e provavelmente você nunca percebeu nada porque eu sou bom nisso de disfarçar emoções, A. Acho que fui treinado pra isso a vida inteira, sabe? Treinado porque eu nunca suportei carregar todas as dores do mundo, então o mundo me obrigou a lidar com elas de alguma forma.

Hoje eu abri alguns cadernos e encontrei vários poemas, textos e frases repletas de otimismo. E tudo era de minha autoria, A. Como pode a gente se sentir tão invisível, tão perdido e tão sozinho e ainda assim escrever sobre a lua, sobre o amor...Escrever sobre o que não conseguimos sentir? Agora me sinto imerso a essa eternidade de confusões que não me levam a lugar algum. Eu não quero mais me sentir assim, A. Preciso dar um jeito nisso. Sempre tive medo de virar um robô e você sabe disso. Por isso, eu tenho um pedido pra você, A. Na verdade, são dois. Presta atenção, pega uma caneta e anota, pode ser em qualquer lugar...Mas de preferência em um lugar que tenha verdade, combinado? Eu quero te pedir pra sempre, ao meio dia, você olhe para o Sol e pense em mim. E a noite, não importa exatamente o horário, mas sabe quando você olha pra Lua e pensa no quão linda ela está? Então! Quando você olhar pra Lua e pensar isso, pensa em mim também.

Por enquanto, consigo seguir. Estou vivo, A. Mas preciso de uma força, de um empurrão desses que tiram a gente da nossa zona de conforto, desses que devolve a nossa cor e a nossa coragem. Eu tenho certeza que você irá me ajudar e eu vou conseguir me ajudar.

Toda gratidão do mundo,

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