sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Rodeado por uma ponte inacabada

Quarta-feira fui pego por uma virose daquelas que a única coisa que você tem vontade de fazer é ficar na cama, dormir e se desligar do mundo. Não o fiz por completo, liguei o notebook, pensei em uma pessoa que fazia aniversário naquele dia, entrei aqui e escrevi um texto para ela e também olhei para o céu e desejei que o dia e que a vida dele fossem excelentes. Depois minha mãe cuidou de mim. Mas eu não entrei aqui hoje para falar do meu mal-estar, da minha vontade de não fazer nada(não hoje) e do meu desânimo(não hoje, também). Entrei aqui hoje para falar de companhias.

Ontem eu estava voltando do colégio e, como de costume, me deparei com um grupo de amigos juntos. Minha amiga já havia desembarcado, então entre um procura-livro-procura-fone-procura-qualquer-coisa eu acabei observando aquele grupo que estava em pé, formando uma roda. Eram 4 ou 5, não me lembro bem. Não deveriam ter mais que 21, 22 anos e honestamente, acho que não deveriam ter tantas histórias e tantas bagagens guardadas.

Acabei me distraindo com eles, conversavam bem alto, por sinal. Sobre o "professor maluco" da faculdade, sobre "a mina que foi vestida daquele jeito" e também conversavam sobre o que iriam "fazer no findi". E eu achando aquilo tudo uma bobagem sem tamanho, mas de certa forma, me divertia com aquilo que parecia ser proveniente de um mundo tão vázio, de pessoas tão superficíais...Eu sei que não dá pra julgar ninguém apenas por escutar uma conversa no metrô, mas foi essa a impressão que eu tive.

Me perguntei: será que a vida deles todos está tão alegre desse jeito? Será que eles estão alienados a ponto de não enxergarem mais nada? Ou será que eu que estou sozinho demais? A resposta para as primeiras perguntas eu não tinha e, não faço questão de ter, afinal, difícilmente irei encontra-los outra vez, mas e para a última pergunta? Será que eu estou sozinho demais? Não sei, mas eu gosto muito daquela frase do Nietzsche: "Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia." Vai ver me roubaram a solidão tantas vezes e a companhia que me ofereceram foi falsa. Já senti isso várias e incontáveis vezes. Só penso que a solidão é algo tão impregnado dentro de mim que dificilmente conseguem rouba-la.

Mas e hoje? Eu estou me sentindo totalmente só? Não, existem tantas coisas me acompanhando. Existem músicas que se encaixam com o que sinto, existem livros e versos que me traduzem diariamente, existem paisagens que me emocionam e existe uma sede de explorar - e me comover! - aquilo que eu ainda não presenciei. Dito isso, é possível que eu esteja totalmente só? Não.

Aprendo todos os dias que a vida não é feita apenas de pessoas e do amor que nós sentimos por elas. A vida é feita de tantas, tantas outras coisas e o amor pode ser direcionado para algo que não ande sobre duas pernas. A vida também é feita das nossas escolhas e vejamos o quão agraciados nós somos por ter a oportunidade de escolher, a vida também é feita dos nossos sonhos, das nossas vontades e das nossas esperanças que renascem diariamente (se não renascessem, não estariamos mais vivos, acredito). E o amor pode ser direcionado para tantos ventos. Para o vento que sopra internamente, para as estantes de livros, de CD's, para os palcos, para os quadros, para tantas coisas bonitas que nos rodeiam.

O amor é um sentimento grandioso demais para acreditarmos que só pode ser sentido de e para seres-humanos. Isso é mentira. O amor cobre e permeia tudo o que é real para nós, tudo o que nos comove, nos emociona, nos impulsiona. Se dói? Claro que dói. Bastante, dói diariamente e eu nunca vou aprender a contornar essa dor, muito menos a mascará-la. Mas existem outras diversas e milhares e incontáveis coisas que o amor acompanha, também. Coisas essas que, felizmente, tenho acesso sem precisar e depender da vontade de ninguém.

Não tenho um grupinho para planejar o "findi" no metrô (nós temos uma semana de provas pela frente, vestibulares...) e nós também não conversamos muito alto, até conversamos em inglês de vez em quando, para que não entendam nossa conversa e os nossos assuntos me mercam. Eu tenho tantas coisas e fico feliz que para viver boa parte delas eu não preciso da vontade de outras pessoas. Se precisasse, poderia dizer que, sim, estou sozinho. Mas não estou. Eu me tenho e, quando acordo otimista, tenho o mundo dentro das minhas mãos. Isso não acontece todos os dias, ou com uma ordem programada. Mas a verdade é que eu nunca fui uma pessoa muito estável, então sem surpresas, o que nos leva é caminhar.

Um comentário:

  1. Sem palavras para tamanha grandeza!
    Muito, muito verdadeiro...
    Gosto muito das coisas que leio por aqui(2)

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