quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Como relógios e bússolas quebradas

Vejo folhas secas de árvores de outras dezenas de primaveras anteriores caindo ao chão. E nada pode ser feito a não ser recolhe-las, uma a uma. Porque cada uma dessas folhas possui uma história, cada uma cresceu sozinha e ao mesmo tempo junta de outras tantas e tantas folhas e flores que ali também cresciam. Vejo tudo se perder aos poucos. Minto, vejo aquilo que não é verdadeiro se perder aos poucos.

Conforme o tempo passa, mais e mais folhas secas caem ao chão, é impossível detê-las, suplícios ou promessas são inúteis nesses momentos em que elas - as folhas simplesmente caem. Há um vázio, há uma saudade, há uma tristeza que não se preenche de forma alguma e há uma angústia que não passa de forma alguma. A culpa são das folhas que caem? Não, acho que não. Acho que a culpa é toda minha e dessa minha mania de persistir dias a fio em busca de uma direção. Seria mais fácil ser uma folha seca e apenas cair ao chão, sem possibilidades de escolha.

E a direção não aparece de jeito nenhum, mesmo que eu corra, que eu persiga, mesmo que eu evite que as folhas caiam ao chão, ou que mais louco ainda: eu invente alguma fórmula que retardasse o envelhecimento delas. Ainda assim a direção não apareceria. E cansa esperar pela direção, da mesma forma que cansa observar cada folha cair ao chão. Cansa, cansa, cansa. Além de cansar, acabo sendo invadido por um sentimento de estagnação porque não posso fazer nada, apenas observar.

Diversos movimentos involuntários e estados variados, diversas faces de uma mesma coisa. São apenas folhas e é apenas ele, sem encontrar a direção. Absolutamente nada que já não tivesse presenciado antes, já que as folhas sempre caem e ele sempre se sente desorientado.

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