quinta-feira, 16 de junho de 2011

No meio de nada

Quando suas veias despertaram, passou a tomar forma. E aí quis chorar porque sentia tanto, tanto, tanto, eu sentia tanto alguma coisa que eu não sabia e acho que nunca vou saber o que é. O que eu sabia é que essa coisa chegava até o fundo, que era incapaz de ser vista, colocar a mão e tirar dali de dentro. Era muito fundo. E estava lá a tanto tempo que parecia que tinha sido colada, ou nascera com aquilo dentro de si.
Quis disfarçar, colocar alguma coisa por cima e colocar um sorriso no rosto pra fingir que aquela coisa não existia, mas aquilo(que ele não sabia o que era) existia de tal forma e a tanto tempo que nem mesmo a melhor das máscaras, nem mesmo o melhor dos disfarces e nem o sorriso mais bonito seriam capazes de encobri-las. O desespero bateu e tentou mais além e tentou mais de tudo o que achava que poderia tentar. Fez milhões de perguntas e questionamentos a fim de dar vazão àquilo tudo, mas também não adiantou.
No campo e nas estradas chegou a ver alguma coisa reluzente, que parecia que iria ajuda-lo e foi em busca dessa coisa. Escavou, decifrou mapas e percorreu estradas, escalou montes e atravessou florestas; tudo foi em vão. Aquilo ainda estava lá, latente.
Em determinados momentos ameaçava gritar e dizer para todos e principalmente para, que havia algo dentro de si e que esse algo convivia consigo 24 horas por dia, 7 dias por semana. Convivia com ele o tempo todo e ele não estava sendo mais capaz de lidar com aquilo. Também chorou e até se sentiu mais leve, mas foi temporário. Aquilo voltou a incomodar. E não cessava, não cessava nunca.
Diariamente se perguntava se um dia, finalmente aquilo iria se despregar do seu corpo, da sua vida. Se despregar de seu coração. Não obteve respostas, ou talvez o silêncio também seja uma resposta. A resposta da incerteza, porque ele não conseguia encontrar seu caminho, não conseguia seguir seu caminho e carregar aquilo sozinho. Doia, cansava, ele simplesmente não conseguia.
Enquanto isso, algo brotava dentro de si, algo que crescia todos os dias e algo que ele sabia que era tão maligno e libertador ao mesmo tempo, que seria capaz de salva-lo. Quando se deu conta de que esse algo estava crescendo, suas atenções foram imediatamente viradas para ele. Olhava para ele, buscava informações sobre ele, tudo, absolutamente tudo era sobre ele. Porque parecia ser uma saída. Talvez não a mais correta, talvez não a única, mas era a única naquele momento e era nela que ele se agarrava. Como ele era ingênuo. Como ele ainda acreditava.
Até que em determinado momento, essa coisa malígna e libertadora que havia brotado já estava lá a tanto tempo que já estava colada, como a outra coisa. Era algo que também convivia com ele 24 horas por dia, 7 dias por semana. Era sua saída, se a outra coisa resolvesse explodir dentro de si e transbordar por suas veias, seria sua saída, seria sua solução e sua libertação. Era sua rosa seca, murcha e quase sem vida ao meio de outras tantas rosas com vida e com cor. E justamente aquela, seca e murcha que ele iria colher, caso fosse necessário. Caso fosse sufocante.

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